quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ÉTICA

A palavra ética esta na boca de todos, talvez como nunca antes na história, curiosamente esta palavra é usada para justificar decisões importantes da vida daquele que fala, assim, por causa da ética justificamos a troca de governantes, a troca de cônjuge, de amigo, de empregador, de empregados etc. Muito da nossa vida social é pautada em alguma ideia de ética, ora, sendo assim, tão onipresente, seria de se esperar que todos soubessem com clareza do que se trata.
                Mas quando somos colocados contra a parede, afinal de nós, por causa da ética fazemos isso ou aquilo, então o que é? Do que se trata? Ai começam as dificuldades, afinal de contas, da mesma maneira com que usamos esta palavra, desprezamos quase que completamente o seu sentido. Uma das razões, é que a palavra ética não tem um único sentido, existem palavras assim, quando estudamos na escola ainda no primário, que manga quer dizer ao mesmo tempo um pedaço de uma camisa ou uma fruta. Se pudéssemos dar uma definição só para manga que a compreendesse como a camisa e afruta teríamos dificuldades, da mesma forma também acontece com a ética, dentro dessa complexidade encontrada na conceituação da palavra ética, nos propomos a passear debaixo deste guarda chuva de possibilidades, encontrando pacotes de sentido, ao longo da história essa palavra foi usada em muitos sentidos, e hoje não é diferente, tentaremos neste artigo, compreender essa pluralidade de sentidos da palavra ética.

PRIMEIRAS IDEIAS SOBRE ÉTICA

                Iremos nos limitar a apresentar as diversas formas de pensar a cerca da ética,  sendo este portanto, nosso objeto de estudo, buscando assim, a melhor forma de viver e de conviver com essa temática. Então, eu penso que, algumas advertências merecem alguma atenção de nossa parte.
                Quando lemos um jornal, ou conversamos com alguém, toda vez que aparece a palavra ética, esta palavra parece indicar um conjunto de regras de comportamento, eu diria que o ponto mais agudo desta percepção é justamente a expressão “código de ética”. No  final das contas isso faz acreditar, que a ética corresponderia a uma espécie de tabela, uma tabela onde teríamos todas as possibilidades de conduta humana, e em duas colunas o que seria ética e o que não seria, o que seria justo ou injusto, certo ou errado, conforme queiram entender por regras de conduta humana.
                Se a ética fosse essa tabela, o curso de ética seria um curso para ensinar como devemos viver, e um bom aluno de ética, é um aluno que decorou essa tabela, tendo por final este aluno a resposta certa sobre o comportamento no mundo social. Ora, supõe-se que o curso de ética não é isso, e porque que o curso não é isso? Porque ética não é isso, e ética não é isso por quê? Porque não existe essa tabela, e de certa maneira, todos aqueles que procuram tabelar a vida como algumas instituições religiosas costumam fazer, os códigos de condutas corporativos fazem isso, os livros de autoajuda fazem isso dentre outros exemplos.
                Todos quantos se propõe a tabelar a vida, e, portanto, dizer o que é e o que não é ético, o que é o que não é justo, o que é ou não adequado ou honesto. Estão de certa maneira inscritos num certo programa de pensamento, que permite esse tipo de conclusão.
                Este artigo tem como escopo principal, situar estes programas de pensamentos, dentro de uma história do pensamento ético, e mostrar que existem ao lado de um programa de pensamento outros programas. Pois dentro do sistema em que se escolhe, será mais fácil responder o que se deve ou não fazer com base dentro do pensamento ético.
                E é justamente isso que entendemos pelo estudo da ética dentro de um contexto filosófico contemporâneo, são uma tentativa de buscar os diversos sistemas de pensamentos pelo menos os principais, já que não seria possível falar de todos.  Por exemplo, temos os gregos, que tem uma maneira de pensar a pertinência ética de uma conduta, se baseando em um conjunto de referências que os permitem chegarem a esta conclusão, isso é aceitável ou não. O que é que iremos descobrir que aquilo que era digno de aplausos pelos gregos, era inaceitável para os cristãos, e vice versa. Porque o sistema de pensamento cristão era outro, as referências que constituem o sistema de pensamento cristão são outras, e portanto, aquilo que era muito legal, deixa de ser, naturalmente que gregos e cristãos vão povoar boa parte da história do pensamento ocidental, mas depois de 1600, começam a surgir diversas outras formas de pensar o valor ético das condutas, então surgiu com Maquiavel o pensamento pragmático, surgiu com Jeremy Bentham e Stuart Mill o pensamento utilitarista, surgiu com Kant o pensamento intencionalista, surgiu com Nietzsche o pensamento vitalista. E assim temos muitos sistemas de pensamentos que poderão ser usados para discutir o valor moral das condutas humanas, e ao chegar em um determinado momento da vida, compreenderemos que a partir do instrumental que utilizarmos o que seria certo deixará de ser, o que era errado deixou de ser e passou a ser certo, diante desse contexto a que se perguntar, e qual é a verdade?
                E a respostas já podemos apresentar desde já, nenhuma, porque da mesma forma como o homem refletiu sobre qual o melhor jeito de discutir o valor ético da conduta humana ao longo dos últimos 2.500 anos, ele continua fazendo isso hoje e continuará fazendo isso amanhã, e por tanto se não chegamos ainda a uma conclusão é porque é possível que não cheguemos nunca.
                Mas o que o estudo da ética nos apresenta, é dar–nos instrumentos pra problematizar qualquer tentativa de atribuição de valor a vida humana, ou seja, quando alguém nos falar que não podemos fazer isso ou aquilo, teremos todas as condições de perguntar porque? E rapidamente conseguiremos inscrever os argumentos em algum tipo de sistema de pensamento que o estudo da ética nos propõe.
                E rapidamente saberemos se o sistema de pensamento adotado por esta pessoa é um dos inseridos dentro do contexto histórico e filosófico, isso de certa forma nos adianta pouco, porque vivemos em um imediatismo exacerbado que nos obriga a decidir as coisas da vida, e para se chegar a decidir as coisas da vida teremos que adotar um desses sistemas de pensamento, que de forma inexorável é uma decisão única e exclusiva de cada pessoa.
                A proposta do estudo da ética não tem como escopo, ajudar na escolha de um sistema de pensamento a ser adotado pelas pessoas, acreditamos que quanto mais referências se têm mais difícil será a escolha, tanto é que quem é cristão e passou muito tempo dentro desse sistema, não encontra muita dúvida quanto a julgar determinadas situações que obviamente não se encontra dentro do sistema de pensamento cristão.

                Se vivemos dentro de um sistema de pensamentos, e sequer sabemos da existência de outro, torna-se facilitador na tomada de decisões, porque os livros de autoajuda vendem tanto? Porque de fato eles descomplexificam a vida, simplificando o que é complexo, na hora da complexidade este diz “faça isso” sem explicar muito o porque, não vem ao caso se a promessa é o sucesso, se a promessa de felicidade, se á promessa de vida boa, limite-se a fazer o que ele esta dizendo. Quase sempre o argumento dos livros de auto ajuda são os que os filósofos chamam legitimidade tradicional, é mais o menos assim, fulano de tal fez e deu certo, portanto, faça também.