segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ideal subjetivo e liberdade de conduta



Venho tentando esclarecer os elementos que impedem o alcance do estado subjetivo de liberdade, condição sempre buscada, mas até agora vivida apenas como um conceito abstrato, uma bela ideia.
A insistência no tema me parece fundamental, principalmente porque considero que um importante equívoco contemporâneo foi a confusão entre liberação das normas de conduta sexual e a liberdade; este último estado me parece bastante mais abrangente e, principalmente, impossível de ser catalogado como norma específica de conduta, o que, por si, já se oporia ao conceito de liberdade.
Não me canso de apontar a ingenuidade e a superficialização do pensamento contemporâneo sempre com a finalidade de remeter as pessoas – especialmente os jovens – para as questões humanas em toda a sua complexidade, coisa que me parece fundamental para se obter algum processo efetivo.
Além da vaidade, da incapacidade humana de aceitar a condição de insignificância, da tendência à sobrecargas de responsabilidade e renúncia, importantes obstáculos para quem pretende se aproximar da sensação de liberdade, valem algumas considerações acerca do sentimento de culpa.
Em geral, se considera que existe dentro de cada indivíduo um código moral – em grande parte proposto pelo meio social e familiar – cuja transgressão determina uma sensação desagradável de tristeza e vergonha que costumamos chamar de culpa.
A experiência nos tem obrigado a ver as coisas de uma maneira bastante diversa; em primeiro lugar, a grande maioria das pessoas não se comporta de um modo tido como digno por seu grupo, porque possui internamente um conjunto de regras que deverão ser seguidas; estas pessoas se comportam respeitando as regras basicamente por medo das represálias terrestres (perda de posições, de afetos, risco de prisão etc.) ou divinas (castigos após a morte).
O senso ético advém da pessoa ser capaz de se colocar no lugar das outras e, através disto, estabelecer limites à sua conduta com a finalidade de não ser o causador de dramas para terceiros; a maioria das pessoas interrompe desde muito cedo o processo de sair de si mesmo e também tentar enxergar o mundo pelos olhos dos outros; isto por causa de uma grande fragilidade interna que os torna permanentemente ocupados consigo mesmos e com seus interesses, condição em que usamos o termo egoísmo.
O egoísta não desenvolve, portanto, um verdadeiro senso moral; se comporta sempre com o objetivo de tirar melhor proveito para si em cada situação, o que muitas vezes poderá coincidir com a chamada conduta ética, que poderá ser conhecida mais intelectualmente do que emocionalmente. Neste caso, a conduta é mais de conveniência do que de convicção.
Aquelas pessoas capazes de se colocar no lugar das outras tendem para uma posição moral também duvidosa, posto que, na maioria das vezes, aprendem a tirar mais prazer da renúncia do que da defesa de seus legítimos direitos. Isto acaba determinando uma ética onde a grandeza esteja no sacrifício, no sofrimento e na renúncia, condição que, quando cumprida, faz o indivíduo se sentir elevado, engrandecido. Estas são as pessoas que experimentam forte sentimento de culpa quando se percebem falhas para com terceiros.
Além da tristeza derivada de se perceber responsável por algum prejuízo causado ao outro, existe também uma desagradável sensação de vergonha e humilhação derivada, ao meu ver, de não ter sido capaz de se manter no nível elevado ao qual o indivíduo se pretende. Assim, além de outras implicações, às quais voltarei em um outro artigo, existe também, na transgressão moral, a sensação desagradável de rebaixamento, de insignificância, da qual todos tentamos nos afastar, cada um de uma maneira.
Da maneira como penso, esta sensação é responsável por um importante componente depressivo relacionado com o sentimento de culpa, depressão esta muitas vezes desproporcional aos danos causados; ela mede a decepção do indivíduo para consigo mesmo.