quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Porque não?



– Mas por que eu deveria? Se não há uma boa razão, não vejo, não ouço, não falo. Ponho-me como os macacos de Nikko. – Mas os três macacos não estão preocupados com isso. Eles estão à procura de paz. Acham que se não vemos, não ouvimos e não falamos sobre o mal alheio, tudo fica bem. – Pois é isso: se não há uma boa razão, deixo de saber, não me interessa. Não é negócio meu. – Mas não é disso que falo. Aliás, esses macacos sugerem alienação. Excluem-se da realidade. Faltam falas inteligentes sobre o mundo.
– Está vendo? Tenho razão. É de se ficar em silêncio, a maioria fala tolices. – Tens razão coisa nenhuma, se fechar olhos e ouvidos, aí é que não se aprende nada, e nunca se terá o que dizer. E a conversa era outra, falávamos sobre a tua impertinência de sempre perguntar: Por que deveria? Por que iria? Por que faria? Sempre me vens com um: Por que sim? – Claro, não me movo sem lógica. – Lógica? Lógica é coerência, não é contabilidade de disposição. Vais organizar tuas emoções?
– Lá vens tu. Pareces esses azafamados que detratam a burocracia. A vida tem que ter ordem. Não se pode, sem mais, fazer qualquer coisa por qualquer motivo. – Também penso assim. Mas não é possível ficar à procura de uma razão anterior para os gestos da vida. – Ao contrário, deve-se procurar a razão. A razão dá uma ideia da atitude, dá mais certeza, dá uma clara indicação de quando não fazer. – Uma configuração de panorama futuro? Desconfio que isso jamais se confirme. O devir é uma relação da vontade com o aleatório, e isso é o fascinante da existência.
– As pessoas… Olha, as pessoas agora me vêm com isso, de lançarem-se à sorte. Ao mesmo tempo vivem com medo, querem segurança. Como pode? As coisas têm que ser analisadas. – Assim me parece… A ponderação… Mas isso não garante nada. Aí é que está a questão. As angústias vêm daí. Pensas que as pessoas têm medo porque lhes falta uma segurança possível. Ora, a incerteza compõe o quadro da vida. – Errado. Podemos perfeitamente traçar planos. – Sim… Mas o futuro não tem compromisso com eles. E sempre podemos, nós mesmos, mudar de ideia, não é?
– Minhas ações, desculpa, mas eu as condiciono, considerando o momento, as circunstâncias. – Jamais. A conjuntura é que condiciona as tuas ações. Repito, é uma relação: tu opinas, mas, se “navegar é preciso, viver não é preciso”; viver não é exato, mal fazendo um trocadilho com a poesia. – Poetas estão fora do mundo, fico com minhas cautelas. – Cautelas que também as tenho, mas levo-as comigo, não fico nelas. Olha, achei na internet. – Que é? – Escritos. São poéticos, são de meninas poetas, não vais gostar. – Ora, não me incomodes. Diz lá.
“Ah!, fico com o por que não?, é desafio: por que não escutar, olhar, dizer? Por que não fazer? Sou livre para as tentativas. O por que sim? sugere arrependimento” (Adriana Alves). “Sou toda por que não?, os meus encontros e desencontros jamais serão indicados por um por que sim?. O por que não? é a aventura provocadora da vida” (Karine Gomes Vieira). “Sim, sim: por que não?. Cada por que não? é uma possiblidade. Quero muitas possibilidades” (Maíra Zimmermann).

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